Em 25 anos, o que vai estar no nosso prato?
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Atualmente, há um debate crescente entre pesquisadores sobre o futuro da oferta de alimentos nas próximas duas décadas, com muitos apontando que as tecnologias desempenharão um papel crucial nesse processo. No entanto, essas opiniões são divergentes, e alguns especialistas preveem até o desaparecimento de certos alimentos. Um exemplo disso é o estudo Cibo 2050, realizado pelo Observatório CirFood District, um centro de pesquisa e inovação em alimentação localizado em Reggio Emilia, Itália.
De acordo com o estudo, a alimentação global passará a contar com menos proteínas de origem animal, como carne e laticínios. Além disso, produtos como cacau e café, em sua forma atual, podem desaparecer. A explicação para isso está na necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis, além da possível adoção de alternativas vegetais para substituir esses produtos. Um exemplo seria a alfarroba, uma árvore originária da região do Mediterrâneo, que poderia substituir o cacau, especialmente na Europa. Essas mudanças sugerem que, para garantir a preservação desses alimentos, será necessário um esforço conjunto para adaptar a agricultura e a alimentação às novas exigências ambientais e tecnológicas.
O estudo foi conduzido por um time de 15 especialistas provenientes de áreas diversas, como psicologia, demografia, sustentabilidade e saúde. Seu objetivo é oferecer uma visão abrangente sobre o futuro da alimentação e os desafios que a humanidade enfrentará para assegurar uma dieta sustentável e acessível até o meio do século. O estudo defende que a sustentabilidade precisa ser mais do que uma simples estratégia, deve se transformar em um modelo de negócios integrado. Só dessa forma as empresas poderão equilibrar a competitividade econômica com a redução dos impactos ambientais.
Outro ponto considerado fundamental é educar os consumidores sobre as consequências de suas escolhas, o que é tão fundamental quanto o avanço tecnológico. As decisões alimentares não são apenas racionais. Elas estão profundamente ligadas à identidade cultural e ao contexto social, o que exige uma abordagem mais holística para promover mudanças sustentáveis. Tecnologias emergentes, como a edição genética (CRISPR) e a agricultura regenerativa, podem ajudar a reduzir os impactos negativos, mas a verdadeira transformação dependerá de políticas públicas eficazes e de uma mudança nos hábitos de consumo. O estudo também destaca a importância da água, apesar de não ser um alimento em si. O acesso à água potável é considerado um dos maiores desafios para o futuro da alimentação, pois a escassez de água de boa qualidade comprometeria a produção de alimentos essenciais, como frutas, vegetais, carne e café.
Carne: O peso da Proteína Animal
A produção de carne e seus impactos ambientais têm se tornado um dos maiores desafios para a sustentabilidade global. A pecuária industrial, com seu alto custo ecológico, pode não ser capaz de sustentar o consumo de carne nos níveis atuais por muito tempo. Por isso, existe a necessidade urgente de integrar tecnologias inovadoras com práticas agrícolas sustentáveis, a fim de reduzir o impacto ambiental sem comprometer a segurança alimentar.
Em 2023, o número global de bovinos destinados ao abate era de aproximadamente 943,77 milhões, com uma previsão de queda para 922,69 milhões em 2025, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Embora essa diminuição possa parecer modesta, ela reflete uma tendência que já está gerando discussões sobre a oferta de carne no futuro.
Nesse contexto, alternativas à carne tradicional estão sendo exploradas. A carne cultivada em laboratório, embora promissora, ainda enfrenta desafios como o alto custo de produção e a resistência cultural. Por outro lado, as proteínas vegetais, como os hambúrgueres à base de leguminosas, têm ganhado popularidade. O Future Food Institute, acredita que a transição para fontes alternativas de proteína será inevitável, mas destaca que isso exigirá um esforço significativo de educação alimentar para que os consumidores aceitem essas novas opções.
Café: o Aroma Ameaçado Pelas Mudanças Climáticas
O café, uma das bebidas mais queridas e consumidas ao redor do mundo, enfrenta uma ameaça crescente devido às mudanças climáticas. O aquecimento global está afetando diretamente as principais regiões produtoras, como Brasil, Vietnã e Colômbia, reduzindo a área adequada para o cultivo. As variedades de café mais finas, como o arábica, são particularmente vulneráveis às mudanças de temperatura e ao aumento de pragas, que se tornam mais prevalentes em climas mais quentes.
Com a crescente demanda por café, muitas áreas produtoras estão sendo forçadas a se deslocar para regiões que, em muitos casos, não estão preparadas para o cultivo ou que não possuem uma tradição cafeeira. No entanto, essa migração nem sempre é uma solução viável, seja do ponto de vista econômico ou sustentável a longo prazo. Para garantir a continuidade da produção de café, será crucial a combinação de inovações tecnológicas, como o melhoramento genético das plantas, e políticas públicas eficazes, que possam proteger essa bebida essencial, responsável por movimentar bilhões de dólares no mercado global.
Cacau: Uma Doce Ameaça
A produção de cacau, base do chocolate, enfrenta sérios desafios devido a uma combinação de fatores ambientais e socioeconômicos. A África Ocidental, que responde por 70% da produção global, está sendo afetada pela degradação ambiental, mudanças climáticas e a pobreza estrutural dos agricultores. O cacau, por ser uma cultura altamente sensível às alterações climáticas, vê suas áreas de cultivo encolhendo rapidamente.
O setor do cacau enfrenta dificuldades econômicas e sociais profundas. Os pequenos agricultores recebem uma parte irrisória do preço final do chocolate, e, sem investimentos em infraestrutura e práticas agrícolas sustentáveis, a produção de cacau se tornará inviável em muitas regiões. Com as mudanças climáticas e práticas agrícolas insustentáveis, culturas como o cacau e o café podem entrar em uma zona de risco irreversível, tornando-se produtos de luxo inacessíveis sem apoio adequado.
Entre as alternativas, as agroflorestas, que integram o cultivo do cacau com outras espécies vegetais, têm mostrado resultados positivos ao mitigar impactos ambientais e aumentar a biodiversidade. No entanto, sem apoio governamental e acesso a tecnologias modernas, o cacau corre o risco de se tornar cada vez mais escasso e caro.
Fonte: Compre Rural
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