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Nutricídio: como a fome e a insegurança alimentar afetam as famílias



O pedido de ajuda de uma criança à Polícia Militar de Minas Gerais porque a família estava passando fome é mais uma das tristes reações de desespero dos brasileiros diante da falta do que comer. Já vimos imagens de pessoas disputando um caminhão de ossos, no Rio de Janeiro, e de um pai de família gritando por comida em meio a prédios residenciais em Brasília: "É fome, por favor, é fome!".


Foi a mesma agonia que levou o pequeno Miguel, de apenas 11 anos, a ligar para o 190 e pedir ajuda: "É por causa que aqui em casa não tem nada para gente comer e eu tô com fome", disse o menino ao agente que o atendeu.


O país que, apesar de ser um campeão mundial na produção de alimentos, historicamente convive com a desigualdade na distribuição de renda e de comida, nos últimos anos assiste ao crescimento do número de famintos: 33,1 milhões de brasileiros estão passando fome em 2022 e mais de 50% da população está em algum grau de insegurança alimentar. Ou seja, não possui acesso regular e permanente às refeições básicas.


A dificuldade em adquirir comida para alimentar a família atinge cada vez mais também as pessoas que trabalham ou possuem alguma renda. Nesta luta cotidiana contra a fome, alimentos mais saudáveis são substituídos por produtos de baixa qualidade nutricional e frutas e verduras dão lugar na mesa para processados oferecidos a menor custo pela indústria. A junção da fome com a crise econômica fazem chegar aos supermercados subprodutos de menor nível nutricional que atendem à baixa capacidade de compra das famílias brasileiras.


Entre esses produtos fake está o soro de leite, composto de sobras da produção de laticínios encontrado à venda nas prateleiras como "composto lácteo" ou "pó para preparo de bebida sabor leite". Já se sabe que esse valor menor pago nesses produtos de baixo valor nutricional, no futuro, custará muito mais caro, com as consequências na saúde das pessoas.


A falta de educação alimentar, unida à crise financeira, leva os brasileiros ao consumo de alimentos de baixa qualidade, como os ultraprocessados, com elevado índice de açúcar, sódio e gorduras trans e saturadas, prejudiciais à saúde. O consumo prolongado desses alimentos, com ausência de nutrientes essenciais, como as vitaminas e sais minerais, desencadeia doenças crônicas como a hipertensão e a diabetes.


Estudos indicam que pessoas negras são mais vulneráveis a estas doenças —as pesquisas mostram que a fome e as consequências da insegurança alimentar são mais graves em lares de famílias negras. Por isso, pesquisadores como ele trabalham com o conceito de nutricídio, utilizado pelo médico e estudioso norte-americano Llaila O. Afrika, na década de 1990, para abordar o genocídio nutricional.


A situação pode ser entendida como genocídio porque as ameaças letais da fome e da insegurança alimentar atingem diretamente uma população específica, no caso, os negros na África ou em outros países espalhados pelo colonialismo e pela escravidão. Também é resultado dos chamados "desertos alimentares", regiões geograficamente distantes do acesso a alimentos naturais ou pouco processados, como feiras e mercados agrícolas, essenciais a uma alimentação saudável.


O que não podemos aceitar é que um país de rica diversidade natural, com elevada produção de alimentos, não consiga suprir as necessidades de comida da sua população e que crianças tenham a infância interrompida pelo desespero de não terem o que comer.


Fonte: Uol

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