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Os segredos para a produção do doce de leite ideal



Açúcar e leite são os únicos ingredientes necessários para produzir um dos doces mais amados pelos brasileiros, o doce de leite. Esse produto tradicional, que é consumido há séculos na América Latina, desde o período colonial, tem uma físico-química ainda pouco explorada cientificamente, mas seu processo de produção é bastante simples: basta aquecer a mistura de seus dois componentes, de forma que a água evapore – e seja desenvolvida uma reação química conhecida como Maillard.


No entanto, se o processo e a receita são simples, e muitas vezes feita de forma caseira, o que os doces de excelência fazem de diferente? Qual o segredo? Da Universidade Federal de Viçosa (UFV) vem um dos segredos: o único ingrediente utilizado, além do açúcar e do leite, é o bicarbonato de sódio, para catalisar a reação de Maillard. Mas a principal diferença é o leite, produzido no campus e processado imediatamente.


O leite utilizado é de excelência pois é homogeneizado e conta com um baixo teor de acidez. Produzido por estudantes e pesquisadores da UFV desde 1980, em parceria com a Fundação Arthur Bernardes (Funarbe), o doce de leite de Viçosa foi reconhecido dez vezes como o melhor doce de leite do país pelo Concurso Nacional de Produtos Lácteos – CNPL. E além da qualidade do leite, há outros detalhes importantes no processo de fabricação. Ele é feito de uma forma mais lenta e com uma quantidade pequena de leite dentro do tacho, que é mantida em evaporação durante todo o processo de Maillard. Isso demora muito, mas deixa o produto consistente e mais úmido, evitando a adição de grandes quantidades de açúcar, o que o deixaria enjoativo.


O doce de leite da UFV é produzido em larga escala, mas sua produção é feita seguindo tradições caseiras. O processo é adaptável ao pequeno produtor, basta ter calma e buscar o leite de qualidade — assim como nossas avós faziam. Na Universidade, o doce demora quatro horas e meia para ficar pronto.

Sete passos

O doce de leite é um produto tradicional sobretudo em Minas Gerais, onde se situam os três melhores colocados do último CNPL, realizado em 2019. E é daqui que vem os sete passos para um doce de leite de sucesso. São eles:


  1. Padronização da matéria-prima: as matérias-primas (leite e açúcar) devem sempre ter as mesmas características e qualidades, com mínimas variações entre lotes. No caso do leite, principalmente em relação à gordura e acidez. Portanto, é preciso evitar trocas constantes de fornecedores;

  2. Homogeneização: processo feito por máquinas específicas que diminuem o tamanho dos glóbulos de gordura do leite visando sua padronização, algo importante para garantir uma boa textura e viscosidade ao doce. Muito utilizado em fabricações de leite pasteurizado, mas difícil de ser adaptado ao pequeno produtor;

  3. Adequação da formulação: se houver alteração no padrão do leite e do açúcar, é importante ter formulações adaptadas de acordo com as matérias-primas. Ou seja, se for preciso modificar a quantidade de leite por conta de seu percentual de gordura, por exemplo, é necessário mudar a quantidade de açúcar proporcionalmente;

  4. Controle da evaporação: na hora de retirar a água, é importante ter o tempo padronizado, senão o resultado final da reação de Maillard pode variar;

  5. Conhecimento do equipamento: é necessário conhecer bem o tacho para fazer o processo sempre da mesma forma. Dependendo do equipamento, podem ocorrer diferenças de cor, sabor e textura. Por exemplo, quanto maior a cuba do tacho, maior a velocidade da evaporação, o que modifica a cor do produto;

  6. Saber a hora de parar: é necessário conhecer o momento certo de parar o processo de evaporação e com isto diminuir a velocidade da reação de Maillard. Isso é crucial para a fabricação e depende da sensibilidade de quem fabrica;

  7. Embalar com cuidado: independente do doce ser envasado em lata, plástico ou pote de vidro, é preciso ter cuidado com a higiene durante a embalagem e depois manter a embalagem bem lacrada e armazenada em temperatura controlada. Assim se evita o surgimento do mofo causado por micro-organismos.

Receita caseira

Se você é apenas um consumidor e adoraria ter uma receita infalível, aqui vai uma recomendação:


Ingredientes:

  • 15 litros de leite integral ou padronizado

  • 2,7 quilos de açúcar cristal

  • 15 gramas de bicarbonato de sódio


Modo de fazer:


Misture o bicarbonato de sódio com o leite e armazene. Em uma panela seca de aço inoxidável, adicione o açúcar, leve-o em fogo alto, mexendo constantemente até que o açúcar comece a derreter e caramelizar (cuidado para não deixar a calda escurecer muito, pois pode prejudicar o sabor do doce de leite).


Com a calda ainda quente e com todo açúcar já em estado líquido, adicione lentamente a mistura do leite com o bicarbonato na panela. A partir daí, comece a mexer e não pare mais. Mantenha o fogo alto o suficiente para manter a evaporação constante, sem projetar o leite para fora da panela (cuidado para não se queimar). Na fase inicial, o controle do fogo é mais complicado, no entanto, com o aumento da concentração do leite na panela, o processo vai ficando mais fácil.


Continue mexendo e mantenha o processo da evaporação até dar “o ponto”. Um teste simples é gotejar o doce diretamente da panela em um copo com água. As gotas precisam chegar no fundo do copo sem sujar a água ou perder a forma.


Sem parar de mexer, desligue o fogo. Só pare quando o doce estiver em uma temperatura entre 70 a 75°C (utilize um termômetro cozinha para medir). Na sequência, envase o produto. Tampe os frascos e vire-os de cabeça para baixo. Mantenha o doce de leite fora da refrigeração, protegido do sol, de umidade e de luz excessiva. Se forem utilizadas boas práticas de fabricação durante a produção, o produto terá uma validade média de 60 a 90 dias, a variar pelo tipo de embalagem.


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