Quanto um boi bebe de água para produzir um quilo de carcaça?

Da pegada hídrica total para produzir um quilo de carne, quanto de fato vem da água que o boi bebe? O zootecnista Júlio Palhares, doutor em ciências da engenharia ambiental pela e pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, realizou uma pesquisa recentemente na unidade de pesquisas em São Carlos-SP e cujo artigo científico foi publicado na edição de março da publicação Science Direct.

Conforme publicou a própria Embrapa, a pesquisa chegou a um valor médio de pegada hídrica que varia de 29 mil a 32 mil litros de água por quilo de carcaça. Nesse cálculo, segundo Palhares, foi avaliada a contribuição da mãe na fase de cria. Ao desconsiderar a pegada hídrica da vaca, há uma redução de até 52% no valor do indicador. Chega-se ao número global médio de 14 mil litros de água por quilo de carne. Entretanto, menos de 1% desse total vem da água que o bovino bebe.

“Através de uma série de abordagens, a gente chega a essa relação. Muitas vezes o pessoal vê os números, e eles são altos quando a gente fala em carne bovina, e se pergunta: mas o animal bebe tudo isso de água? Não, o animal não bebe tudo aquilo de água. A água que o animal bebe é uma pequena parte desse número da pegada hídrica que nós calculamos. Geralmente, quando a gente fala em produção animal, seja ela a carne bovina, suína, aves, leite, ovos, a água que o animal bebe não chega a representar 1% do valor que a gente calcula.”

A grande representatividade nesse valor da pegada hídrica é a transformação dos alimentos, ou seja, tudo que entra pela boca do animal e é convertido em água. Para isso, leva-se em conta quanto aquela cultura vegetal consumiu de água para atingir o seu crescimento. Então, para qualquer pegada hídrica de produto de origem animal, grande parte dela vem do alimento que nós transformamos em água – a chamada água verde.

A pegada hídrica é uma metodologia que foi criada há mais ou menos 18 anos por um grupo de uma universidade holandesa e nada mais é do que uma relação de ciência. Chega-se à relação de litros de água por quilo de carne produzido, ou quilo de leite, mas também podemos calcular a pegada hídrica de uma pessoa por dia ou de uma nação ou do mundo inteiro. Palhares destacou que o objetivo do cálculo da pegada hídrica não é chegar ao número em si nos valores absolutos, mas sim usar o indicador para comparar desempenhos e fazer a gestão dos recursos hídricos.

Isso porque, ao saber o número, é possível ir além e promover a gestão hídrica. A grande pergunta do produtor é: o que eu tenho que fazer para ser mais eficiente? Ou seja, como, com o mesmo litro de água, eu consigo produzir mais carne? Assim aumenta-se a eficiência hídrica. A pegada hídrica faz essa sinalização para o produtor ou para a sociedade ou para quem está manejando o recurso sobre qual a eficiência dele hoje e o que se pode fazer para melhorar essa eficiência.

O zootecnista destacou que é imprescindível o pecuarista levar em consideração não somente o desempenho médio de um lote ou categoria. Isso porque o experimento indicou que houve uma diferença de sete mil litros de água na pegada hídrica de indivíduos dentro do mesmo grupo. Mesmo se tratando de animais de mesma genética, de mesma raça, que nasceram praticamente na mesma época e sob as mesmas condições ambientais, existe uma individualidade. Isso acontece porque os consumos individuais, tanto de dieta como de água ao longo do dia, são diferentes entre esses animais, o que vai impactar no cálculo da pegada hídrica.

Fonte: Canal Rural