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#Séries Pratic 51: Afinal, por que comemos o que comemos?



O uso de células-tronco para a produção de carne cultivada em laboratório fica numa ‘região’ do entendimento que, para muita gente, por ignorância, pode gerar desconfiança. Infelizmente, quando o assunto é alimentação e tecnologia, existem muitos discursos reproduzidos sem conhecimento. Muita gente fala que não devemos comer esse ou aquele alimento por se tratar de um alimento transgênico, por exemplo, mas a maioria das pessoas não tem a menor ideia do que é, de fato, um alimento transgênico. Com a carne cultivada deve acontecer exatamente a mesma coisa.


Um aspecto a se considerar, igualmente, é se o público consumidor irá de fato entender a carne cultivada como “carne de verdade”, porque o consumo de carne é uma questão com profundas raízes culturais. Já se consumia carne no Brasil mesmo antes da chegada dos europeus — uma afirmação amparada por estudos de antropologia alimentar que evidenciam que os indígenas brasileiros, apesar de adeptos da pesca, também apreciavam carne de caça —, contudo o nosso consumo de carnes na contemporaneidade tem bastante influência europeia.


Tanto no Brasil quanto no mundo, uma questão que influencia o hábito de comer carne é a nossa base gastronômica de origem francesa. Nos séculos XVIII e XIX, como resquício da Revolução Francesa, ainda existia uma simbologia muito forte da carne como poder. Nos banquetes da época, o momento máximo dos eventos era a hora de trinchar a carne, que vinha inteira para o salão. Essa simbologia de poder acabou se espalhando pelo mundo. Assim, não raro na literatura gastronômica, a carne é compreendida como o elemento central na construção de um prato: Muitas das obras da literatura de gastronomia promovem a montagem de um prato começando pela proteína de origem animal. Na sequência vêm os carboidratos, as fibras e um molho.


Comer carne, muito além das questões nutricionais, é também uma questão de estilo de vida. Mesmo com o visível crescimento de movimentos contrários ao consumo de carne, como o vegetarianismo (que exclui produtos de origem animal da dieta) e o veganismo (que exclui os produtos de origem animal não só da dieta, mas de qualquer outro tipo de consumo, incluindo, por exemplo, o vestuário, os cosméticos etc.), bem como com o aumento no consumo de produtos à base de plantas nos últimos tempos, o consumo de carne não deverá cair exageradamente apenas por uma questão de tendência. Talvez isso aconteça, no entanto, por necessidades futuras — ambientais, por exemplo —, que poderão nos levar a um consumo mais consciente e moderado.

Consumo de carne e meio ambiente

Seja o churrasco de domingo, o hambúrguer de sexta-feira ou o bife que você come no meio da semana, a carne, quando produzida em larga escala, impacta diretamente o meio ambiente. Isso se dá, naturalmente, não por aquele pedaço de carne em si, mas por todo o processo de fabricação, que gasta (muita!) água e energia, além de liberar gases de efeito estufa e outros resíduos.


A pecuária ainda é uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa (os chamados GEE), o que agrava o aquecimento global. Mesmo a criação de animais em pastos abertos — que emite menos gases do que o sistema de confinamento — ainda incorre em impactos ambientais, principalmente pelo desmatamento necessário para criar novas áreas de pasto. Assim, pensar em medidas para garantir o consumo da proteína animal preservando o meio ambiente é uma necessidade urgente.


A carne cultivada em laboratório pode ser uma alternativa nesse sentido. O cenário de crescimento populacional aumenta a demanda por carne e sua produção apresenta riscos para o planeta Terra. A carne de laboratório é, sim, um dos caminhos para se chegar nesse fim, mas um caminho que pode ser implementado junto a outros, como, por exemplo, o reducetarianismo (movimento de alimentação consciente, menos radical do que outras alternativas, que defende a redução consciente no consumo de alimentos que causam impactos ao meio ambiente).


Fonte: Uniso

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